sexta-feira, junho 24, 2005

O tempo `e uma laranja

Corto o tempo aos gomos e guardo-o no bolso.
Preciso de fatias temporais agarradas,
presas na minha anca.
Planto raizes e cor,
desprendo toda a agua que visto pela manha.
Aguardo o amadurecimento soculento do meu sumo.
A minha voz `e como as sombras de uma arvore
que o teu vento nao consegue apagar.
O corpo move-se mas nao se desfaz.
Nao ha forca.
`E pequeno o teu vento. Como o meu bolso.
Como a laranja que tinha gomos de tempo.

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sábado, junho 18, 2005

Deito-me na parede

Vejo letras cair para dentro da sala vazia.
Sao quadradas, gastas, pisadas como o chao do espaco vazio
que `e a minha divisao.
Nao quero. Quero que pare. Nao quero que pares.
Descem. Descem e eu nao tenho fundo.
Nao tenho fumo. Nao tenho tudo.
A minha ilusao. A minha manta ferrea.
E do pulso ao fim dos dedos
ha uma teia partida
que revolve a poeira de sorrisos interrompidos.
Abro a cortina de sonhos e prendo o tule de desejos sobre a cama.
Deito-me na parede.
Vou dormir.

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terça-feira, junho 14, 2005

O teu talvez

De todas as palavras que me disseste, so o "talvez" ficou em eco bem no meio, bem ca dentro, bem em mim.
Parece que me anestesias com esse teu falar pre fabricado, pre estudado.
Pensas que `e facil ter um mapa dentro do corpo? Nem sei quantos becos ja assinalei.
Cada toque teu `e um corredor cheio de portas.
Julgas que nao te sinto? Nunca foste discreto.
Nao me facas engolir baldes de areia molhada, eles acomulam-se e eu nao me sei filtrar.
Nao me dizias que era feita de flores e tinha cheiro de canela e sabor de acucar amarelo e olhos de india? Eu acreditava, imagina. Apesar de nada me sair da pele, sentia um aroma a especiarias sempre que me derretia ao sol.
E o vento onde esta? Onde esta o tufao que trazias debaixo do braco como complemento indespensavel `a noite que carregas em ti?
Perdeste. Esqueceste. Roubaram.
E querias tomar conta dos meus sonhos? Nem da tua metereologia mediocre sabes cuidar.
A moldura que antes te enquadrava nas correntes do meu mundo fica-te larga, fica-te escura. Deixaste-te expandir para dentro.
Estas entalado entre a lingua e o ceu da boca.
Estas contra um ceu que decerteza `e uma mistura de cores. Devia ter desconfiado quando pintaste o meu de cor invisivel.
Sabes que colorir de olhos vendados nao ensina o caminho para o prazer de nao ir a lado nenhum, o caminho de ser diferente? Sabes.Nem te importas.
Estas destoado e nem reparas que a cada pegada uma mancha de tinta se descola.
Um dia trocaste os sentidos de todos os relogios que existiam dentro da minha cabeca. Que prazer `e esse em me ver desorientada?
Es doentio. Es viciante. Es languido.
Ficava a ouvir-te tocar cora. Claro que nao sentias, mas acreditas que tinhas luzes a cair-te em cima dos ombros nus? Eu sei que nao. Nunca acreditaste no poder da luz. Nunca acreditaste no poder de nada. Nem sei como te perdeste no fim daquela chuva de meteoritos.
Nao me dizes, mas estas com medo. Eu sinto. Eu sinto-te.
De todas as minhas camas, foste a mais longa, mais estreita, mais fria, mais vazia.
Mas tinhas cor...muita cor.
Vou beber cha de caramelo e cuspir fogo.
E o teu "talvez" ainda ecoa bem no meio, bem ca dentro, bem em mim.

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quinta-feira, junho 09, 2005

Asas precisam-se

Um fantasma rasgou-me as asas, amarrotou-as.
Escondeu-as no jardim do passado.
Nao tenho tomado conta de ti.
Tantas vezes me pediste para te ver dormir,
tinhas medo da noite.
E eu encolhia-me contigo para te sossegar.
Desenhamos mundos que ninguem vai conhecer.
Colava sonhos na parede e tu
pegavas desejos de embalar.
Do tecto estrelas caiam em chuva cadente
mesmo por cima da tua cabeca.
Os pequenos simbolos do teu medo
andavam pelo chao, sozinhos.
Colecciono pecas dobradas com o teu rir,
as nossas lembrancas.
Dizia-te das nuvens, do nevoeiro, da terra molhada
e tu nada perdias.
Aceitavas e pregavas no corpo
a vontade que tenho de te abrir.
O vento arde quando caminho pelo teu sabor.
Esperas-me ate poder voar?

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quarta-feira, junho 08, 2005

Partiste-te

Queimas, ardes, estilhacas o meu altar.
Foste o meu inti, foste o meu mar.
Foste musica, agora es so ar.
Es o po das teclas do meu corpo.
Quase sempre, mais do que devia,
vejo-te quebrar a luz do caminho que escolhes.
Ja es transparente, gelado e ramificado.
Partes-te.
De vidros nos olhos, estas partido.
Partiste-te.
Partes.
Partes para o mundo dos cacos que nao se colam.

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sábado, junho 04, 2005

Turbilhao

Sinto coisas.
Coisas que me saem da cabeca.
Entram nos pes e estimulam
toda a minha palpitacao.
Sou interiormente explorada.
Desarrumam sentidos,
despenteiam sensacoes,
desmentem emocoes.
Focam ilusoes.
Rebentam a minha escala.
Rolam-me pelo ar,
fervem-me na totalidade.
Quando passam `e um turbilhao.
Nao tenho mao na substancia
que me percorre.
E eu nao me importo.

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sexta-feira, junho 03, 2005

Do vento nada sei

Sei da vontade que tenho em fluir,
dos sentidos que tenho gelados e engolidos
com sabor de cafe.
Sei das gotas e das teias que guardo em papel.
Sei de fugir. Sei de voltar.
Sei de caminhos que vao a ti.
Sei das asas que me deste. Sou anjo e nem sei planar.
Sei das horas interminaveis, infinitas do teu dormir.
Sei da imperfeicao dos sonhos.
Sei do traco que te sobe ate a nuca
e se perde na descida dos ombrais.
Sei da folga da minha pele.
Largos, ja me caem aos pes, os impulsos e a razao.
Nada para apertar o coracao.
As penas soltam-se.
E do vento nada sei.

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