segunda-feira, maio 30, 2005

Sinal

Deitada no manto do teu corpo aguado
lanco uma pedra ao ceu porque quero um sinal.
No tempo que espero a queda,
a tua agua seca
e as minhas libertacoes prendem-se
`a verdade que pousa no teu peito.
Fico numa poca onde as linhas da tua cara
sao invertidas, desfocadas.
Nao sou falcao.
Nos meus olhos tens a dimensao do universo
e tu nao passas de um bocado condensado
das minhas aguas.
Nao te quero chorar.
Abres as comportas da minha cara,
deixas-te escorrer.
Nao percebo porque largas a corrente
que sou eu.
Rachei a tua forma perfeita e delicada.
O sinal recebi-o encharcada,
por te tentar pegar.
Agora sou as pegadas de uma praia vazia.
Ja nao me molhas.
Nem gotas tenho para derramar.
O silencio deixou-se ouvir.
A musica acabou cedo demais.

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quinta-feira, maio 26, 2005

Novas margens

Dos meus olhos partidos nasce musgo.
Chovo. Sou humida por fora. Quase sempre.
Tenho bolhas azuis e vermelhas
a preencher o espaco oco da minha voz.
Das maos furadas, prestes a abrir
flutuam forcas agudas.
Cubro-me de invisibilidade
e parto para so mais uma vez,
derreter-me em sinfonias gastas.
Desejo o unissono das minhas melancolias.
Enfeito-me de letras, rodopio
e amorroto os dedos dos pes.
Cerro-me de desejos tao mais doces
que a minha boca insipida.
Lambo a pele pegajosa, melosa
das minhas notas ate ferir a lingua
com tons mesclados.
Meto a minha vida a um canto,
de castigo.
Vou fazer-me crescer ao som sublunar
das minhas novas margens.
No meu corpo letrado brota voracidade.
Expelo de mim movimentos, fantasias,
essencias, portas de moldar.
Sou voluvel.
Aspiro segredos derrotados, derramados
em pocas de fumo que cuspo para o ar.
Mando-me para cima do meu ser inventivo.
Nada no meu voo caido. Voei. Caí.
De um lado. De outro.
Harmonisei-me.
Escolhi nao ser simetrica.
So.
Simplesmente.
Completamente.


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quarta-feira, maio 25, 2005

Mudei-me

Mudei-me.
Mudei-me para o teu corpo.
Durmo mesmo entre os teus olhos,
a tua boca humida.
Passo tardes deitada nas tuas ancas
moldadas pela aromatizacao da tua cor.
Do umbigo bebo mel e o mentol que exalas
uso como perfume.
Nas tuas pernas canto e acho outras formas
de sentir o vento.
Subo os degraus das tuas costas musicais,
desvendo ceus ocultados pelo nevoeiro
que te sai da pele.
Bebo cha na curva que desce dos ombros,
mergulho no infinito dos teus bracos longos, caidos.
Distraio-me com a destreza dos teus cabelos.
Embruto-me com a necessidade de te ver brilhar.
Ocupo uma porcao distinta
da tua materia dancarina e distraida.
Engoli ja tantas das tuas mares.
Nunca tive recheio que chegasse
para te contar.
Agora na gruta do teu peito
limpo o po do teu carmesim.
Confesso.
Moro em ti
desde que te senti respirar.

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domingo, maio 22, 2005

Poema `a Azulencias

Pessego.O teu cheiro `e o cheiro de um pessego
Azul. Daquele teu azul suave ao toque e ao paladar
Requintado dos duendes que te provam.
Azul tao mais alto que a lua que tentas
Beber. Azul tao quente que so tu podes tocar.
Entoas as formas mais extraordinarias
Na danca do teu corpo azul veludo
Solarengo. Penetrante. E de
Azul em azul, e de
Zen em zen
Unes calmamente o tom que
Levitas. Tu personificas a cor azul.
Eclipsas e ergues e bailas
Naquele espacinho azulado. So teu.
Conheces coloracoes inexistentes,
Impetuosas, impenetraveis, incandescentes.
Antes da Era azul, eras transparente, nao tinhas sabor.
Sabes? Nao podias mesmo ter outra cor.

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Espumante

Foi mesmo agora.
Reparei que em mim ha o vicio da tua espuma.
Da tua espuma, imagina!
Sempre me julguei viciada no dardejar
que exalas da pele.
Nas corporalizacoes que singelamente desmembras,
nas complicacoes das palavras.
No ardor da facilidade de sonhar,
na tua amplificacao constante.
Na forma quente e vermelha que te moves.
Em ver-te de olhos fechados.
Nos acordes da tua simplicidade absorvente, exacta.
No silencio da tua ausencia.
Em aspirar-te regularmente.
As minhas tendencias habituais...
Procuro em ti restos metaliferos.
Quero-te segurar com o meu interior
arenoso e pedregoso sem te arranhar.
Com tanto por ti afora,
por ti adentro,
nao entendo como nao te consigo pegar.
Perspicaz,
so na espuma me fazes agarrar.
Quando te toco, desmonto-te tristemente.
E eu tenho prazer
em ver-te espumar.

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quinta-feira, maio 19, 2005

Musicalmente

Num espaco desertico, poetico,
deliro.
Enrolo as pernas em momentos pautados.
Articulo-me dentro, fora, entre o deleite das notas
sempre uma oitava a cima da materia que respiro.
Todas as claves se colam ao meu veludo.
Percorro a dedos
sons abarrotados de benjoim.
Pedacos agitados, baralhados de demencia
produzem onomatopeias medrosas, timidas
que se entranham no lugar certo.
Torno-me uma danca alternativa, imprevisivel.
Sou impotente `as vagas, `as forcas,
`as caramelizacoes sonoras
e das varias tentativas de acordar.
Do fundo do corpo contrastado, orquestrado
ha luzes doces a estelar-me dos poros.
A cortina da musica vai levantar.

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quarta-feira, maio 18, 2005

Sou um carrossel

Fulmino-me opacamente para um interior
longinquo, inacessivel
onde o ardor, a interpidez
o sabor picante das minhas dancas
sao ininterruptos.
Uno com garras os sentidos
abruptamente, brutamente, descompassadamente.
Tenho pressa.
Distorco assimetricamente
desvios extemporaneos que irrefutavelmente
se entrenham, se banham,
penetram meticulosamente, convulsivamente
na distancia entre a minha forma de sonhar
e da coisa que sou sempre com calma.
Exponho-me ao ar, ao tempo, aos reflexos
ao aroma de qualquer indiferenca,
`a inutilidade dos meus olhos fechados.
Improviso a incandescencia indolente
dos meus actos inebriantes,
indescritiveis, indesculpaveis, indesejaveis,
indestrutiveis, indeterminados, indevidos.
Mergulho no tempo.
Sufoco a realidade, virtualidade, vitalidade
que inspiro submersa nesta concha
virtiginosa, voluptiosa, lasciva,
lubrica, sensual.
Vitalizo-me gradualmente,
sonoramente, entusiasticamente
por caminhos verosimeis,
ludibriosos, secos,
inacreditavelmente belos.
A lentidao que intrinsecamente
me provoca inevitaveis vontades de ser
contraluz, contrapasso, contraste
nao morre.
Isto sou eu.

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domingo, maio 15, 2005

Hoje

Hoje quero ser a musica que vou cantar,
reanimar a voz.
Agarrar aquilo que nao se ve.
Sentir aquilo que nao se pode tocar.
Rodar pelo meu proprio eixo
dancar, dancar, dancar.
Hoje quero ser o vento que vou soprar,
apanhar o ceu aos bocadinhos.
Dizer aquilo que nao se pode contar.
Encher-me de sabores.
Pensar em nao pensar
sonhar, sonhar, sonhar.
Hoje quero por do avesso aquilo que de mim resta,
molhar os labios.
Respirar-me por dentro.
Meter os pes na agua.
Mandar a relva ao ar
voar, voar, voar.
Hoje quero , mas nao vai dar.
A lua tocou-me o rosto
ja vai alta, ja la vai.
Tenho estrelas para contar.
O dia, que pena,
acabou, acabou, acabou.
Nao choro. Suspiro.
Tenho a noite para me segurar.

sexta-feira, maio 13, 2005

Aqua

Sao ondas,
os meus dedos compridos,
lendas que nao existem.
Sao mar,
as cores que respiro,
retratos partidos, perdidos.
Sao agua,
as maneiras que sonho,
formas que danco.
Sao correntes
que me movem em camara lenta,
que me soltam.
Sao gotas
que nao disfarco, que escorregam,
escorrem pela epiderme.
`E suor,
a qualquer coisa que sou com dificuldade.
`E um lago,
como me cotorno a lapis de carvao,
me moldo sem maneira, livre.
`E liquido,
esta facilidade de me manter viva,
de me perder sem me mover.
`E chuva,
este ter medo de ser humana.
`E vapor,
as viagens que faco
por acaso, so assim.
Sao rios
de verdade dentro dos meus olhos,
receio de emergir para ti.

terça-feira, maio 10, 2005

Num espaco calmo

numa estranha cor da noite, num outro lugar que nao existe:

- Sempre vieste.
- Atrasei-me, mas vim.
- Agora nao ha Sol. Nao ha dia.
- Agora ha o que tu quiseres.
- Musica, quero ser sons.
- Cores, so te posso dar tons.
- Oh entao deixa la ...
- Vamos ser felizes?
- So se for para sempre.
- Da-me a mao. Vamos brincar.
- Anda. Sempre podemos passar pela Lua.

E nunca tao longe estiveram de todos, nem de eles proprios, quando se formaram num so.

segunda-feira, maio 09, 2005

Perdoa

Perdoa se te fiz sol e luz
dentro dos meus olhos.
Se te sonhei e desejei
mesmo quando nao quiseste.
Desculpa se te toquei
assim ao de leve
mesmo quando nao pediste.
Pensei que nao sentisses.
Perdoa se tirei
os sentimentos mais profundos,
para vive-los nao chegam dois mundos
que ainda vou explorar.
Quando reparei
tinha tanto de ti espalhado ca dentro.
Faz-me confusao, juro nao entendo
como podes tu viver
sem o amor que te tirei
todos os dias um bocado
com medo que um dia me faltasses.
Agora voltei.
Nao tens de te assustar.
Estou aqui
para te dar a vida que te privei
os sonhos que roubei
os arrepios que te implorei.

domingo, maio 08, 2005

Luz

Tudo o que vejo brilha.
Onde vou tudo cintila.
Aquilo que penso `e magia.
`E fantasia.
Perde-te na minha cabeca.
Cheira esta utopia.
Degusta esta ilusao.
Voa pela minha alma.
Sente o meu esplendor.
Ve como vivo
dancando uma sinfonia encantada
produzida por sentimentos estranhos.
Acompanhada por coicidencias invulgares.
La estas,
no meio da minha resplandescencia.
Nao me apagues
so porque nao reluzes.
Desculpa,
nao tenho poder na minha luz preciosa.
Isto `e o meu conjunto de sons,
`e como respiro...
Nao me substimes pelo meu olhar fragil.
A minha rima `e doce mas mortal.

quarta-feira, maio 04, 2005

Caixinha de Surpresa

Tenho uma caixinha pequenina
com um mundo perfeito dentro.
Gosto de la ir as vezes voar.
Dentro dos meus sonhos sou livre.
Tento acreditar em ti.
Mas nao vens, nenhuma nuvem tem a tua forma.
Nao fico triste por ser a unica no meu mundo,
fico bem por te-lo so para mim.
Sois e luas e musicas como so eu vejo.
Como eu gosto de ver.
E vou inventar um sentimento perfeito,
este nao me chega.
Mereco mais.
Surpreende-me.
Neste meu mundinho pequenino,
nada `e novo.
A agua...`e morna.
Quero beber de ti, da tua frescura.
Nao tenho medo do que possas pensar,
sou imune a tudo aquilo que me possa fazer chorar.
Perco me em mim mesma
cada vez mais e mais e mais
nao me consigo encontrar.
Sou um mar de constantes frustrações
De sentimentos contraditórios.
Nao vens?
Nao faz mal.
Dentro da minha caixinha me deixo estar.
Eternamente.
A sonhar.
Queria poder acordar e saber que existes…

terça-feira, maio 03, 2005

Simplesmente uma carta de amor

"Se morrer amanhã... fico triste!
Fico triste porque houve varias coisas que eu não te disse... coisas que me fizeste sentir e sonhar que mais ninguém fez... coisas que não sei se voltarei a sentir com mais alguém...que me ficaram e ficarão na memória eternamente!
Fizeste-me voltar à vida numa altura que me julgava morta... fizeste as coisas de maneira tal, que ( até ) voltei a sorrir com as pequenas coisas da vida, pequenas situações... imagens... cheiros... músicas... o simples dia ou noite ganharam uma essência diferente.
Fico triste, pela vezes que te quero abraçar e não o faço, pelas vezes que te quero beijar e não beijo.
Fico também porque sei que mereces que dê o melhor de mim e não dou...
Se eu morrer amanhã, não morro em paz.
Quero-te conhecer tanto, ainda!
Quero saber aquilo que por vezes não dizes em palavras, mas de um modo ou de outro me transmites e que não consigo decifrar.
Se morrer amanhã, vou chorar.
Vou chorar porque ainda não conheci aquele teu outro mundo, aquele que ainda não visitei, embora saiba que as portas estão abertas...
Morro infeliz, se morrer amanhã.
Quero-te fazer tanto ainda. Quero-te fazer sorrir, arrepiar, sonhar, desejar... chorar também ( porque não?) e queria-te fazer feliz, aquela felicidade que parece que flutuamos a 5cm do chão!
Morro e choro amanhã, se souber que não o conseguirei.
Tu conseguiste... podes morrer... porque me fizeste feliz...sorrir, amar e desejar, e eu não te vou esquecer.
Quando relembro certas coisas... não resisto e quando dou por mim, estou a sorrir... sim , tu consegues que eu seja feliz apenas pelas lembranças e se eu não te visse nunca mais, acredita que nem a mais minuscula coisa seria esquecida...!
Se morrer amanhã, não chores.
Foi porque o mereci, foi porque não te mereci.
E serás feliz, certamente; eu encarregarme-ei disso, esteja onde estiver.
Se morrer amanhã, quero dizer que te adoro e me farás muita falta no sitio para onde for e que as músicas que canto agora porque me lembro de ti , não as deixarei de cantar, não serás esquecido.
De qualque maneira se morrer amanhã, tenho ainda o dia de hoje para te abraçar e sentir o teu cheiro e ouvir o teu sorriso; sim és tu, é o teu sorriso que eu quero ver por último, se morrer amanhã..."

e eu, que so queria uma carta de amor...

domingo, maio 01, 2005

Sou tao previsivel

Nunca triste estou demais
ao olhar para o pouco que de mim faco.
Julgo-me.
Penso-me distraida.
Sonho-me em segredo.
Falo-me baixinho.
Canto-me ao ouvido.
Vamos, agarra-me.Vamos dancar esta valsa.
Lanca-me a todos.
Passeia-me, descobre-me, vive-me.
Que estranha.
Se ao menos existisses
e me fizesses cor, letras e sons.
Culpo o inexistente.
Condeno a especie de vida em que fui inserida.
Perco o jogo em que lanco o dado sempre sozinha.
Quando te tornares real eu torno-me credivel.
Tenho mesmo pena de mim.
Sou tao previsivel.